Se você ainda não conhece este nome, temos o maior prazer em apresentá-lo: Cleber Tolini. O ator, de 45 anos, já dedica mais de duas décadas à arte de forma profissional. Ele também é consultor de audiodescrição — mas isso a gente explica melhor mais à frente.
Por: Angélica Cabral
Fotos: Acervo do artista
Os primeiros passos de Cléber na cena cultural foram dados ainda na adolescência, quando começou a fazer cursos de teatro. Nunca mais parou. Aos 17 anos, o interesse ganhou corpo e ele entrou para a Fundação de Artes, em São Caetano do Sul. Dois anos depois, deixou São Paulo e veio para o Rio de Janeiro fazer teatro à vera!
Mas a grande virada em sua trajetória artística aconteceu mesmo em 2018, com a estreia do seu espetáculo solo, “O Sub-normal – Uma história de baixa visão”. Foi ali que ele conheceu outros artistas com deficiência e começou a entender o seu lugar dentro desse universo. Hoje, o seu “teatro-documentário” já soma mais de 130 apresentações, viajou o Brasil e até integrou um festival em Nova York, na terra do Tio Sam.
A atuação também chegou às telinhas. Na TV, Cleber fez parte do elenco de “Todas as Flores”, produção de sucesso exibida no Globoplay. Assim como na vida real, Márcio — seu personagem — também era uma pessoa com baixa visão, na história escrita por João Emanuel Carneiro.

Sobre sua condição de pessoa com deficiência visual, ela é resultado de um tumor cerebral diagnosticado há 20 anos, que demandou uma neurocirurgia. O procedimento afetou o nervo óptico, tornando-o uma pessoa com baixa visão. Para quem não sabe, essa classificação se refere a quem enxerga menos de 30%, mesmo com correção por óculos ou lentes. No caso de Cleber, a visão é de apenas 20%. Como já era ator antes disso tudo acontecer, precisou se adaptar para continuar no ofício — e foi o que ele fez.
Quando perguntado se a baixa visão afeta sua forma de se expressar artisticamente, ele responde que não. Houve uma mudança, sim — mas na vida como um todo. E, diante dessa nova realidade, a adaptação e os aprendizados vieram como um processo natural.
Ao mergulhar no universo da deficiência visual, Cleber descobriu uma nova paixão: a consultoria de audiodescrição. Ele percebeu que, nos espetáculos, os roteiros de audiodescrição costumam ser escritos por pessoas sem deficiência visual — e nem sempre as informações chegam de forma clara para o público-alvo. É aí que entra o olhar de quem vivencia essa realidade. Desde então, ele se encantou com a função e tem se aprofundado cada vez mais nos diferentes formatos. Para ele, descrever uma imagem estática, uma peça de teatro, uma ópera ou um parque é um exercício criativo de sensibilidade — e também se tornou uma de suas ocupações profissionais.

Sobre as políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência, Cleber acredita que houve, sim, avanços importantes. Ele reconhece um crescimento na discussão social e política do tema. Nos últimos anos, ficou evidente que as pessoas com deficiência passaram a ocupar mais os espaços públicos e a lutar por seus direitos — o que, para ele, é uma questão de cidadania. No campo da cultura, muita coisa melhorou: mais acessibilidade em teatros, cinemas e eventos. Já em relação à mobilidade urbana, ele avalia que ainda há muito a conquistar.
Atualmente, Cleber Tolini está em cartaz com o musical infantil “Família DinDim”, uma comédia sobre educação financeira voltada para crianças. O espetáculo passará por quatro capitais: Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO), Recife (PE) e Brasília (DF). Em seguida, fará temporada no Rio de Janeiro, no Teatro Fashion Mall (São Conrado), a partir de maio. Será uma ótima pedida para quem busca um programa divertido e educativo em família! A temporada vai até o dia 8 de junho, com sessões aos sábados e domingos, às 15h30. O texto é assinado pelo dramaturgo Gustavo Kurlat e a direção é de Carla Candiotto. Juntos, eles abordam, de forma lúdica, temas como dinheiro e sustentabilidade.
No segundo semestre, Cleber deve estrear um novo trabalho, desta vez voltado para o público adulto. A ideia é fazer um teatro de revista que vai falar da diversidade, que se mistura à própria história do Brasil, desde o período colonial até os dias atuais.
E tem mais: em setembro, está previsto o lançamento de um filme que ele rodou no ano passado com a Globo Filmes, e que será exibido na TV aberta. O longa se chama “90 Decibéis”, tem 90% do elenco composto por pessoas com deficiência e conta com a participação de Benedita Casé. E nós, da Revista Traços, já estamos aqui, na contagem regressiva pra conferir o resultado!
Quer saber mais sobre esse artista admirável? Siga o perfil @clebertolini no Instagram!