A biografia elétrica de Lélia Gonzalez
Projeto Memória Lélia Gonzalez resgata potência de pensamento de uma das grandes intelectuais brasileiras da atualidade.
Lélia Gonzalez é gigante. Destas brasileiras que deveriam ser infinitamente mais conhecidas. Mas, se depender do Projeto Memória Lélia Gonzalez, a sociedade vai ter uma grande oportunidade de conhecer a vida e os pensamentos desta grande referência nos estudos de raça, gênero e classe.
O projeto, que celebra os 90 anos de vida e os 30 anos de falecimento da autora, professora, ativista e filósofa vai percorrer 7 cidades brasileiras, com mostra, simpósios e exibição do curta documental recheado de depoimentos de familiares, alunos e personalidades que tiveram o privilégio de conviver com Lélia.
Em cartaz no CCBB Brasília até o dia 8 de dezembro, o projeto contou com duas noites emocionantes na Capital Federal. Na ocasião, que reuniu os familiares da homenageada, responsáveis por seu legado e pelo Instituto Lélia Gonzalez, a presença da Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil abrilhantou a abertura.
“Em sua caminhada, Lélia não abriu mão da política, ela sabia que era um ser político e fazia política em todo espaço em que atuava”,
Biografia elétrica
A mineira nasceu em Belo Horizonte como Lélia Almeida em 1935, e mudou aos vinte anos para o Rio de Janeiro, para acompanhar o irmão, Jaime de Almeida, jogador de futebol do Flamengo.
A mudança oportunizou uma formação no tradicional colégio Dom Pedro II, onde Lélia estudou antes de ingressar na Universidade Universidade Estadual do Guanabara, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Por lá, ela graduou-se como bacharel em História e Geografia e, posteriormente, em Filosofia.
Com os diplomas universitários, tornou-se professora de importantes instituições de ensino superior cariocas, públicos e privados, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e a Pontifícia Universidade Católica, a PUC.
Foi no meio acadêmico que conheceu o marido, Luiz, de quem adotou o sobrenome Gonzalez, embora tenha sofrido racismo pela família dele, experiência que também ajudou a moldar suas escolhas de pesquisa e investigação anti racista.
Lélia Gonzalez se destacou ainda na resistência política contra o Regime Militar, sendo monitorada pelo DOPS. Fundou o Movimento Negro Unificado, participou da criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e, mais tarde, integrou o Partido Trabalhista Brasileiro (PDT). Engajada nas causas contra o Apartheid na África do Sul, fundou o Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras e esteve presente em diversos encontros feministas, no Brasil e no exterior. Entre 1986 e 1988, contribuiu com comissões parlamentares, fez parte do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e participou de mobilizações contra as desigualdades raciais e de gênero.
É o filho de Lélia, Rubens Rufino, que relembra não a intelectual, mas a mãe preta. “Ela, como mãe, foi uma pessoa maravilhosa, que me deu a oportunidade de crescer como um homem negro nesta sociedade. Ela sempre teve a preocupação de me colocar no mundo que era meu, da negritude”, exalta.
E é a filha de Rubens, Melina de Lima, que se intitula a neta orgulhosa de Lélia e carrega seu legado. "Ela queria ser compreendida por todos, por isso foi autodidata, dominou tantas áreas porque queria ser ouvida e agora será.”
Texto e fotos: Mariana Vieira
Serviço:
Projeto Memória – Exposição Lélia Gonzalez: Caminhos e Reflexões Antirracistas e Antissexistas
Data: Até 8 de dezembro de 2024
Hora: De terça a domingo, das 9h às 21h
Local: Foyer da Coleção de Arte Banco do Brasil, do Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília
Endereço: Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 2
Classificação: livre.