Quando a arte salta aos olhos... Conheça Moira Braga

Quando a arte salta aos olhos... Conheça Moira Braga

A nossa personagem de hoje é a carioca, de 46 anos, Moira Braga: atriz, preparadora de elenco, mãe, produtora cultural e Mestre em Dança.

Por: Angélica Cabral
Fotos: Thelma Vidales

Quis o destino que Moira passasse parte da infância e adolescência em Leopoldina – MG, mas em 1997, voltou para a Cidade Maravilhosa para cursar jornalismo. Aqui se formou e teve mais acesso a cinemas e cursos livres de arte, até conseguir mergulhar de cabeça na efervescência cultural que sua alma sempre buscava.

Ingressou na UNIRIO como aluna-ouvinte da Escola de Teatro, onde fez uma aula de corpo com a bailarina, pesquisadora, coreógrafa e pedagoga Angel Vianna. Conhecer aquela mulher foi um divisor de águas em sua vida e, a partir daquele momento, teve uma certeza: se dedicaria à dança para aprender técnicas e metodologias de movimentos.

Falando um pouco sobre sua condição de deficiente visual, ela é fruto de uma doença congênita chamada Stargardt, manifestada aos 6 anos de idade. Moira já era míope na primeira infância e, progressivamente, foi perdendo a visão.

Quando deu seus primeiros passos no mundo da dança, cogitou trabalhar com outras Pessoas Portadoras de Deficiência e chegou a procurar a URECE, uma ONG de esportes. Na ocasião, a Seleção Feminina de Futebol de Cegos havia ganhado o campeonato mundial e sentiu um primeiro impulso de preparar as meninas do time, mas que logo foi descartado.

Dali, migrou para o teatro e ficou nos bastidores, como preparadora corporal. Entrou para o “Grupo Os Intrusos e Os Sisos”, que é um teatro de mobilização pela diversidade, fundado por Tatá Werneck. Esse grupo era o braço de uma ONG chamada Escola de Gente, composta por um grupo de jovens atores que abordavam temas como a diversidade e a deficiência. Por lá, ficou de 2011 a 2014, passando por várias funções. Além de preparadora de elenco, fez assistência de direção, assistência de dramaturgia, trabalhou na parte de acessibilidade e atuou também como atriz substituta, por não acreditar que estivesse preparada para entrar em cena.

Em 2015, fez sua primeira peça profissional, o infantil “NHAC! Uma lição de queijo”, montado por Matizael Lima. A ideia era ser assistente de direção, mas acabou dando vida a vários papeis em cena. No ano seguinte, fez o espetáculo adulto “Volúpia da Cegueira”, de Alexandre Lino. Na sequência, ganhou um edital para realizar seu primeiro projeto autoral, que era um conto infanto-juvenil “Ventaneira – A Cidade das Flautas”, que se transformou em peça, ficando em cartaz por dois meses no Rio, antes de se tornar livro. Mais tarde, ainda virou um audiovisual, sob o formato de um curta-metragem.

Paralelo a tudo isso, tinha a dança, que é de onde vem sua formação artística na Escola Angel Vianna. Iniciou no ”Curso Técnico de Recuperação Motora e Terapia Através da Dança”, seguido pela Pós-Graduação em “Corpo, Diferenças e Educação”. Mais para a frente, veio o Mestrado em Dança, na Universidade Federal da Bahia.

O caminho para a TV foi como no teatro, pelos bastidores. O primeiro convite veio para preparadora do elenco de “Todas as Flores”. O mais gratificante deste trabalho é que não foi chamada para trabalhar só com a protagonista cega, vivida por Sophie Charlotte. Na produção, exibida pelo Globoplay, ela passeava por todo o elenco, sendo lançada para “fora da bolha”. A partir dali, veio a preparação do elenco de Renascer também, o que foi ótimo, já que não prendia sua imagem à temática da deficiência visual, abordada no primeiro folhetim. Mas voltando a Todas as flores, ela destaca a oportunidade de ter vivido a Fafá, personagem que caiu nas graças do público na história de João Emanuel Carneiro.

Hoje, Moira Braga tem como influências outros artistas deficientes que ela classifica como seus faróis: Carolina Teixeira, Edu O., Estela Lapponi e Daniel Gonçalves. Moira reafirma que considera fundamental saber o que outros artistas PCDs estão fazendo e um ser referência para o outro.

Para ela, ser artista cega diz muito sobre sua arte, afetando positivamente na amplitude dos sentidos e da inclusão. Isso pode ser visto na forma como se relaciona com o espaço ao redor, com as outras pessoas e na maneira como se desloca em cena. O fato de não enxergar dá outro estado de presença, que é diferenciado, sobretudo nas pesquisas autorais. Sempre que começa um projeto novo, já lhe vêm à mente acessibilidade, como vai ser a audiodescrição, a tradução em libras... “Viver neste lugar” não dá outra alternativa que não seja ser inclusiva desde a criação de um roteiro.

Atualmente, está ensaiando para o espetáculo “Hereditária”, que reestreia dia 31 de janeiro, no Teatro Sergio Porto, no Humaitá. O texto foi escrito a quatro mãos por ela e Pedro Sá Moraes, tendo a doença como fio condutor para falar de heranças políticas, culturais, sociais e congênitas. Quem assiste, percebe a junção de duas formas de fazer dramaturgia: o acervo de acessibilidade da Moira com a musicalidade do Teatro-Canção de Pedro. No palco, contando a história, são três atrizes: Moira Braga, Luíze Mendes Dias e Isadora Medella. O trio atua, canta, interpreta libras e faze a constante troca de ações.

Ah! Detalhe interessante: para que pessoas cegas e de baixa visão tenham acesso ao cenário, elas serão convidadas a entrar no teatro alguns minutos antes da abertura dos portões, a fim de explorar os objetos cênicos de forma táctil.

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