Comédia como resistência: Lucas Ribeiro Parreira transforma dor em riso e luta por visibilidade

Comédia como resistência: Lucas Ribeiro Parreira transforma dor em riso e luta por visibilidade

Jovem comediante aposta no humor como forma de expressão, denúncia e transformação social

Por: Bárbara Noleto
Fotos: acervo do artista

Lucas Ribeiro Parreira tem 23 anos e sobe ao palco para mais do que entreter. Ele transforma o microfone em ferramenta de denúncia e sobrevivência. Lucas encontrou na comédia um modo de existir. “A comédia surgiu para me libertar da prisão que vivi durante anos da minha vida”, afirma.

A infância foi marcada por violência doméstica e solidão. Ele compartilha que as primeiras memórias em Brasília não são alegres ou engraçadas. Após uma série de agressões paternas, sua mãe saiu com ele de casa. 

Sem irmãos ou amigos por perto, cresceu com a sensação de ser invisível. “Eu só queria ser visto”, diz. Encontrou essa visibilidade quando subiu ao palco pela primeira vez em 2022, após sete anos estudando humor. A estreia, em um show de stand-up, representou um ponto de virada.

Desde então, Lucas constrói uma trajetória que une riso e reflexão. Em uma de suas ações mais marcantes, viralizou ao denunciar nas redes sociais a falta de acessibilidade em uma passarela. “O que me irritava era que dificultaram algo que era simples”, critica. O vídeo teve repercussão, e a estrutura foi adaptada. “Hoje as pessoas têm mais dignidade em atravessar a rua”, celebra.

Lucas sofre de escoliose grave, que começou a se desenvolver aos 6 anos de idade. Até essa idade, ele teve uma infância normal. Ele fez tratamento de RPG por volta dos 10 anos e natação por 8 anos para tentar amenizar o problema. Por esse motivo, passou por quatro cirurgias distintas na coluna. A primeira aconteceu em 23 de janeiro de 2020, e a segunda, uma semana depois, em 28 de janeiro de 2020. A terceira cirurgia ocorreu em 9 de fevereiro de 2020, e a quarta em novembro de 2021.

Por isso, o humor, para ele, é mais que carreira. É propósito de vida. “Eu larguei tudo que eu já não tinha para viver só da comédia”, afirma. Lucas trata o palco como um espaço de pertencimento. 

“A sensação que eu tenho quando subo no palco é de que pertenço ao lugar que sempre sonhei e lutei para estar.”

Apesar do reconhecimento, a jornada foi marcada por desafios. Ele enfrentou desmotivação e a pressão social para desistir. “Muitas pessoas deixam de lutar pelos seus sonhos por causa do que os outros vão pensar. Já eu, meti o foda-se para tudo e corri atrás”, conta. O resultado são apresentações em palcos variados e públicos diversos.

Lucas também integra o grupo “Roleudi”, fundado em 2022 em Uberlândia, MG. A trupe já realizou mais de cem shows e viveu mudanças intensas. Conflitos internos e saídas tumultuadas marcaram a trajetória. Ainda assim, o grupo segue ativo. “Nós somos o grupo que mais fez show de comédia na cidade”, afirma um dos membros. Agora, planejam expandir a atuação para Goiânia, com Lucas assumindo o papel de representante local.

A relação de Lucas com a comédia tem raízes profundas. Ele relembra o impacto de um show assistido em 2022 no Labroca, bar de karaokê de Uberlândia. Na ocasião, conheceu Leo, um dos fundadores da Roleudi, que o convidou para um teste. Mesmo sem experiência, Lucas escreveu durante a madrugada e apresentou seu texto no dia seguinte. O humor ácido, fruto de vivências pessoais, chamou atenção. “Eu tinha dificuldade de escrever piada. Todo texto virava desabafo depressivo”, diz. A sinceridade convenceu Leo. “Seja bem-vindo à Roleudi, você está dentro do elenco.”

“A arte é tudo que eu tenho. Se não der certo, prefiro não continuar vivendo.”

A frase, embora dura, revela a intensidade do vínculo que mantém com a comédia. “A minha ambição não está ligada a ganhos financeiros, mas sim a um propósito de estar vivo.”

Lucas Parreira é um exemplo de como a arte pode ressignificar trajetórias. No palco, ele desafia o silêncio, dá nome às dores e transforma a invisibilidade em presença. Ao rir de si e do mundo, convida o público a enxergar o que antes passava despercebido.

Siga o artista: @lucasrparreira