Em meio à efervescência da cultura brasileira, marcada por sincretismos e transgressões, o filme “Homem com H” surge como um convite a mergulhar no imaginário vibrante e provocador de Ney Matogrosso.
Por: Angélica Cabral
Fotos: ParisFilmes/Divulgaçãp
Dirigido e roteirizado por Esmir Filho, o longa é mais do que uma cinebiografia: é um manifesto artístico que reverencia o corpo, a liberdade e a rebeldia como formas legítimas de existência.
A Revista Traços marcou presença no cinema para revisitar a trajetória de um dos maiores ícones da MPB, conhecido por um timbre de voz raro e agudo, performances teatrais e uma estética andrógina. Desde os tempos do grupo Secos & Molhados até a carreira solo, a ousadia de Ney continuou desafiando as convenções e tensionando os limites do masculino e do feminino, o que foi magistralmente captado por Jesuíta Barbosa, ator que “encarnou” o intérprete de forma “assustadora”.
Em cena, Ney de Souza Pereira, Ney Matogrosso e Jesuíta Barbosa são sinônimos! Aplausos de pé para a caracterização e pela brilhante atuação do protagonista, que esbanjou talento na semelhança de trejeitos e na complexidade de apenas se deixar ser.

Outro ponto de destaque é a forma como o artista retratado lida com sua afetividade... Desde a relação com os pais, passando por amizades e amores, o público pode acompanhar de perto também o carinho e os frutos deixados (para ambos!) em sua “Vida, louca vida” com Cazuza. Em paralelo a isso, rola a passagem do tempo real e o fantasma do HIV/AIDS, que aparece como uma epidemia e mostra que “se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”...
Destaque ainda para a fotografia do filme, marcada por cores intensas, cortes abruptos e contrastes entre sombra e luz, criando uma atmosfera quase que ilusória. Não por acaso: Ney sempre foi um ser do palco, do exagero, do brilho, e o documentário incorpora essa linguagem como uma extensão da sua personalidade. A trilha sonora, claro, acompanha a jornada com clássicos que vão de “Rosa de Hiroshima” a “Bandido Corazón”, reafirmando a potência lírica de seu repertório.
A obra audiovisual exibida em circuito nacional é uma mostra da transformação da cultura brasileira nas últimas décadas. Ney atravessou modismos, censuras, revoluções e ainda permanece atual. A produção nos faz refletir sobre o papel da arte na resistência, sobre como o ato de cantar, dançar e se mostrar pode ser, também, um ato político de coragem e enfrentamento.
Mais do que contar a história de um artista, “Homem com H” nos convida a repensar o que é ser livre. Em tempos em que o conservadorismo ainda tenta ditar corpos e silenciar vozes, a figura de Ney Matogrosso ressurge como um símbolo necessário de audácia, poesia e humanidade.
Para reforçar a grandiosidade desse ser único, ele será enredo da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense para o Carnaval de 2026. Só pela escolha, a agremiação já merece nota 10!
Agora, voltando aos cinemas, providencie somente o ingresso e a pipoca... A emoção já está garantida no programa!