Localizado na Pequena África, no Rio de Janeiro, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira atua como quilombo urbano, espaço de resistência, celebração e reescrita da história a partir de uma perspectiva afrocentrada.
Texto e fotos: Rick Barros
Foto em preto e branco: Acervo Prefeitura do Rio de Janeiro
“Existe uma história da África sem o Brasil, mas não existe uma história do Brasil sem a África”, Nayla Oliveira. Coordenadora de Educação do MUHCAB
O Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB) é mais do que um espaço expositivo: é território, memória viva e instrumento político. Instalado no coração da Pequena África, com marco zero no Cais do Valongo — local de chegada de milhares de africanos escravizados e Patrimônio Mundial da Humanidade —, o museu municipal foi inaugurado em 2017 com o compromisso de valorizar as narrativas negras e recontar a história do Brasil a partir de seus verdadeiros protagonistas.

De tipologia híbrida, o MUHCAB se define como um museu de território, histórico, a céu aberto e socialmente responsável. Isso significa que atua em constante diálogo com a comunidade, valoriza o patrimônio imaterial e material da região, propõe reflexões afrocentradas e oferece ações educativas, culturais e de advocacy em prol da população negra.
A diretora-presidente do museu, Sinara Rúbia Ferreira, explica:
“Nosso compromisso é com a valorização da história e da cultura afro-brasileira. O MUHCAB nasce como um sonho sonhado por muitas pessoas — ativistas, pesquisadores e movimentos negros.”
Ela destaca que o museu se estrutura sobre três pilares fundamentais: personagens (históricos e atuais), patrimônios (lugares de memória e objetos) e eventos históricos — sempre em conexão com a espiritualidade e os saberes ancestrais.

Segundo Sinara, o MUHCAB também tem o papel de desfazer apagamentos e corrigir distorções. Elementos como a feijoada ou a capoeira, muitas vezes vistos como triviais ou folclóricos, são resgatados em suas raízes filosóficas, espirituais e sociais.
“Tem muita gente que ainda acredita que a feijoada é comida de senzala, mas ela é um prato de festa, de celebração, com muitos significados. E capoeira não é só uma luta ou dança: é filosofia, é estratégia, é sobrevivência.”
O museu não quer ser um espaço apenas da dor. A alegria, o afeto, a arte e a celebração também fazem parte da resistência negra. Como destaca Nayla, integrante da equipe educativa do museu: “Memória se faz no presente. Quando a gente samba, sorri, toma uma caipirinha na Pedra do Sal, a gente está construindo novas memórias — positivas, de felicidade e pertencimento.”

Aberto à visitação de terça a sábado, das 10h às 17h, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB) oferece ao público um circuito expositivo que pode ser percorrido livremente ou em visitas mediadas. Nessas visitas, o Centro Educativo recepciona os grupos e conduz o percurso promovendo trocas e reflexões. As visitas são abertas a todos os públicos, com agendamento prévio especialmente recomendado para escolas, embora outros grupos também possam participar.
Além do espaço expositivo, o pátio — agora renomeado como Praça das Iyabás — é um importante ponto de encontro e convivência. É lá que ocorrem rodas de conversa, saraus, cineclubes, oficinas, eventos culturais e apresentações de samba e jongo. Essas manifestações não apenas dialogam com a proposta do museu, como também são expressões vivas da memória negra em movimento.

O setor educativo do MUHCAB realiza oficinas temáticas ligadas às exposições, como as atividades desenvolvidas durante as férias, voltadas ao público infantil. Também são promovidos cursos de formação para educadores.
Neste ano, o museu prepara uma programação especial voltada para turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que muitas vezes só têm disponibilidade no período noturno — justamente quando a maioria dos museus está fechada. Como parte dessa iniciativa, será inaugurada uma nova exposição sensorial e interativa, criada em parceria com as equipes de museologia e curadoria. Nessa mostra, o público poderá tocar e interagir com parte do acervo, ampliando ainda mais sua experiência.
Com o objetivo de ampliar o acesso, o MUHCAB também investe em projetos de itinerância, levando parte de suas atividades a territórios periféricos. “Entendemos que muitas pessoas talvez nunca consigam vir até o museu. Então vamos até elas. Essa descentralização é essencial”, reforça Nayla.
O museu marca presença também no ambiente digital, com destaque para o Instagram, que tem sido uma ferramenta importante de divulgação e chamamento para suas ações. A maioria das atividades é presencial, porque a vivência no espaço é parte fundamental da experiência. Mas o Museu está atento para expandir sua atuação em outras plataformas.
“Queremos ampliar nosso acervo, digitalizar conteúdos, criar uma biblioteca especializada e fortalecer ainda mais o diálogo com a juventude negra. O MUHCAB é um lugar para lembrar, cuidar, resistir e sonhar junto. “Nosso futuro é coletivo”, Sinara Rubia Ferreira.
Mais do que um museu tradicional, o MUHCAB se entende como um espaço de aquilombamento urbano, um ponto de encontro entre saberes, corpos e histórias.
Serviço:
MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira
Visitação: Terça a sábado, das 10h às 17h
Endereço: Rua Pedro Ernesto, 80 – Gamboa, Rio de Janeiro (RJ)
Instagram: @muhcab.rio
Agendamentos e mais informações: via redes sociais ou presencialmente