No coração do Distrito Federal pulsa a história de Fillipe Costta, artista e produtor cultural, cuja arte transpira resistência, criatividade e uma profunda conexão com a cultura hip-hop. Nascido em Taguatinga e criado nas satélites do DF, Fillipe é a prova viva de que o corpo é apenas um dos muitos territórios por onde a expressão artística pode fluir.
Por Bárbara Noleto
A dança sempre fez parte da sua rotina e dos seus sonhos. Ainda criança, foi o breaking, um estilo de dança urbana, que o conectou ao movimento Hip-hop. Além de fonte de entretenimento, praticá-lo passou a significar pertencimento.
Fillipe lembra com clareza das rodas de dança na rua, dos irmãos que inspiravam e ensinavam os movimentos como moinho, flair, cavalo de mola, entre tantos outros. "A gente brincava com o que tinha. Não tinha celular, não tinha internet. A gente fazia papelão na rua, treinava os passos, aprendia na base da observação e da repetição", relembra.
Aos nove anos porém, um acidente fez com que ele perdesse uma perna. "Depois do acidente, eu parei de dançar. A dança ficou para trás, e o rap virou minha voz. Foi aí que comecei a cantar e a escrever minhas próprias letras." O rap se ergueu como um espaço para reinventar sua arte. O ritmo, antes dançando, ganhou voz e poesia, e Fillipe passou a narrar sua jornada.
"O rap é ritmo e poesia. É uma das forças do movimento hip-hop, junto com o grafite, o DJ e o MC. A gente conta nossa vida, nossa luta, nossas vitórias com rimas e batidas."
Em 2015, o rapper lançou seu primeiro álbum, consolidando um caminho que vem sendo trilhado com consistência e dedicação. Como ele afirma, a música é seu trabalho e sua paixão. E ela abriu portas para sua atuação como produtor cultural, que amplificou o impacto de sua arte: desde 2013, ele se dedica a projetos que fortalecem a cultura periférica e afro-brasileira, criando espaços para jovens expressarem suas próprias histórias.
Um dos projetos que lidera é o “Eficientes”, uma iniciativa que visa capacitar jovens periféricos para o mercado cultural e digital. Sobre essa iniciativa, ele destaca: "O Eficientes é um trabalho de formação, que conecta o jovem com suas potencialidades, abrindo portas para oportunidades reais. Não é só arte, é preparação para o futuro."
Produzir cultura é uma forma de devolver para a comunidade tudo que o hip-hop lhe proporcionou. "Produzir cultura é trabalhar para que outros jovens tenham oportunidades e se reconheçam na arte."
Fillipe não usa prótese e, mais que isso, não vê em sua condição um impedimento para existir plenamente como artista. Sua história é sobre superação, mas, acima de tudo, é sobre transformação e escolha de caminhos. Ele não vê a ausência da dança como uma perda, mas como um redirecionamento criativo que hoje se manifesta em suas letras, sua voz e sua produção cultural.

Casado e pai de dois filhos, o artista encontra na família o equilíbrio e a motivação para continuar sua jornada. "Minha música nasce do que eu vivo: o amor, a quebrada, o dia a dia. Tudo isso alimenta minha criação." Recentemente, perdeu sua mãe, uma presença fundamental e inspiração constante. Ele fala dela com carinho e reverência, reconhecendo o papel que teve no seu fortalecimento e na construção de seus valores. “Minha mãe sempre acreditou em mim, mesmo quando eu duvidava de mim mesmo. Ela foi meu alicerce, minha base. Essa perda dói, mas também me dá força para continuar e honrar tudo que ela me ensinou."
Ao olhar para a trajetória de Fillipe Costta, entende-se que sua arte é uma potência multifacetada, uma celebração da palavra como instrumento de transformação social e cultural. Ele é um exemplo de como as dificuldades não determinam destinos, e de como a cultura é capaz de abrir caminhos para a existência em sua forma mais ampla.
"Eu não preciso de palco para dançar. Minha dança está nas palavras, no ritmo, no que eu crio e no que eu provoquei para minha comunidade," afirma com a convicção de quem sabe o valor da sua arte.
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