Produtora luso carioca, Elsa Costa construiu uma trajetória que atravessa gerações da música brasileira, desde os primeiros passos no teatro escolar até os palcos icônicos do Circo Voador. Testemunha e protagonista de momentos que marcaram a história do entretenimento, ela compartilha décadas de experiência, memórias vívidas e bastidores que ajudaram a transformar a cena cultural do país.
Poucos nomes da cena cultural brasileira carregam tanta vivência e diversidade de experiências quanto Elsa. Do teatro amador no colégio ao lendário Circo Voador, passando pelos tempos áureos da Blitz e por turnês históricas com Léo Jaime, Marina Lima e Lulu Santos, Elsa foi testemunha privilegiada da ebulição musical dos anos 80. Ao longo de mais de quatro décadas, construiu um legado que vai muito além dos palcos: ajudou a fundar o IATEC, escola responsável por formar milhares de profissionais em áreas técnicas do entretenimento, e colaborou com iniciativas pioneiras que valorizam os bastidores da cultura brasileira, como o Prêmio Profissão Entretenimento, que chega à sua 5ª edição em 2025.

Nesta conversa com a Traços, Elsa reflete sobre sua trajetória, nos conta histórias de bastidores da cena musical, comenta a chegada da inteligência artificial ao setor e fala sobre a importância das políticas públicas para consolidar o Brasil como potência global em música e entretenimento.
“Em teatro a gente faz de tudo um pouco. Foi assim que virei produtora de artista”
1. Elsa, como começou a sua relação com a música e a produção artística?
Olha, minha relação com a arte começou cedo. No colégio de freiras já fazia teatro, algo que sempre me encantou. Mais tarde, trabalhando como secretária executiva, continuei em aulas de teatro, até entrar num curso com a turma do Evandro Mesquita e da Patrícia Travassos. Daquele grupo nasceu o Banduende Por Acaso Estrelados, que acabou orbitando a cena do Circo Voador, no Arpoador. A Blitz estava surgindo junto conosco, e quando eles começaram a ganhar projeção, Patrícia e Evandro me convidaram para trabalhar com eles. Foi em 1983, 1984, que virei produtora de artista, produzindo tudo, como se aprende no teatro.
2. Quais foram os maiores aprendizados ao lado de artistas como Blitz, Léo Jaime, Marina Lima e Lulu Santos? Alguma história de bastidor que o público adoraria conhecer?
Trabalhar com artistas que de repente se tornaram ícones nacionais foi uma grande escola. Aprendi muito sobre lidar com a fama, com os técnicos, com a equipe… muitos deles são amigos até hoje. E bastidores são inúmeros. Uma vez, num show do Léo Jaime em Manaus, me vesti de “Sônia”, a personagem da música “Sônia, não fica me agarrando porque eu estou de sunga”. Coloquei peruca vermelha, collant, bustiê, luvas… entrei no palco e ele achou que era uma fã invadindo. Quando percebeu que era eu, rimos muito. Acabamos cantando e dançando juntos no palco. Foi hilário.
3. O IATEC, Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação, já formou milhares de profissionais. Qual o maior legado da escola?
O IATEC ajudou na capacitação dos profissionais. Hoje temos técnicos de som, iluminação, video, produção de artistas e eventos formados pela escola atuando com grandes artistas, festivais e eventos. Isso ajudou a mudar o patamar do entretenimento no Brasil. Temos profissionais, equipamentos e estruturas capacitadas para recebermos produções internacionais com a mesma qualidade técnica que em qualquer lugar do mundo.

4. E como a formação se adapta às novas tecnologias e à inteligência artificial?
Acredito mais na inteligência ancestral do que na artificial [risos]. A criatividade humana, a mistura de técnica, mente, coração e alma, é insubstituível. Mas, claro, acompanhamos as transformações. Os professores do IATEC são profissionais atuantes, que incorporam ferramentas tecnológicas ao ensino. Um curso de produção em 2000 não é o mesmo em 2025. A experiência acumulada de Pan-Americanos, Olimpíadas, festivais, etc. transforma o que se transmite em sala de aula.
5. O Prêmio Profissão Entretenimento chega à 5ª edição. Como nasceu a ideia? E por que a mudança do Rio para São Paulo?
O prêmio nasceu da necessidade de reconhecer os profissionais que fazem a mágica do entretenimento acontecer. Sem eles, não existe espetáculo. Queríamos homenagear técnicos, produtores, iluminadores, gente que quase nunca é vista. A ida para São Paulo se deu por estratégia: ampliar visibilidade e impacto. São Paulo concentra boa parte da indústria do entretenimento, então fazia sentido levar a premiação para lá.
6. O prêmio tem mudado a forma como o mercado enxerga esses profissionais?
Sim, sem dúvida. Mas ainda pode transformar muito mais. É preciso que os próprios profissionais valorizem seu trabalho e se unam para dar visibilidade uns aos outros. O reconhecimento começa de dentro para fora.

7. Pela primeira vez, a cerimônia acontece junto ao Conecta+ Música e Mercado (maior feira de música da América Latina). O que representa essa parceria?
Foi um casamento perfeito. Conheci o Daniel Neves pela Guta Braga e logo vimos que havia objetivos em comum. O Conecta+ já é um evento de grande visibilidade e trazermos o prêmio para dentro dele amplia nosso alcance. Nossos valores — a valorização humana, a consciência de mercado, a paixão pela música — estão totalmente alinhados.
8. Quais novos artistas e profissionais você destacaria hoje?
Gosto muito da Juliana Linhares, da Natasha Falcão, da Tainá Santos. Chico Chico me emociona. Há muita gente boa em diferentes estágios da carreira. O importante é abrir espaço para que sejam mais vistos.
9. Recentemente, Sabrina Carpenter causou uma polêmica ao dizer que é “difícil levar shows como o dela, de grande porte, para a América Latina”. Você concorda? Acha que o Brasil ainda precisa provar que tem capacidade técnica para sediar grandes eventos?
Não acho que seja uma exclusividade do olhar internacional. Artistas brasileiros também enfrentam barreiras para circular lá fora. O Brasil ainda é muito voltado para a música americana, e temos pouca integração com nossos vizinhos latinos. Mas a verdade é que hoje temos profissionais, equipamentos e estrutura capazes de receber qualquer grande produção. Festivais como Rock in Rio e The Town provam isso. Precisamos avançar em políticas públicas e em formação contínua, mas já estamos em outro patamar.

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