Das Quebradas ao Mainstream: A Nova Geração do Rap de Brasília

Das Quebradas ao Mainstream: A Nova Geração do Rap de Brasília
Foto: Thaís Mallon


Jovens artistas da periferia do DF conquistam destaque nacional e levam a voz das quebradas brasilienses para todo o país

 

Nas periferias de Brasília, uma nova geração de artistas está reescrevendo a narrativa do rap brasileiro. Com letras que retratam a realidade das quebradas, beats inovadores e autenticidade que ressoa em milhões de ouvintes, esses talentos provam que a periferia é berço de soluções criativas e expressões artísticas de altíssima qualidade.

A cena musical periférica da cidade tem raízes profundas. Desde o final dos anos 1980, pioneiros como GOG, Viela 17 e Câmbio Negro pavimentaram o caminho, estabelecendo o DF como um dos principais polos do hip-hop nacional. Agora, na década de 2020, uma nova safra está levando essa tradição a patamares inéditos, conquistando projeção nacional e internacional.

Foto: Thaís Mallon

O Fenômeno Tribo da Periferia

O grupo que simboliza a transição geracional é o Tribo da Periferia. Formado em 1998 no Jardim Roriz, Planaltina, tornou-se uma das maiores referências do rap nacional, acumulando mais de 2,7 bilhões de acessos no YouTube e certificações de platina.

Atualmente formado por Look e DuckJay, o grupo conquistou o país com hits como "Imprevisível" (490+ milhões de plays), "Insônia" com Hungria Hip Hop (250 milhões), "Conspiração" com Marília Mendonça (150 milhões) e "Nosso Plano" (180 milhões). Em 2016, ganharam o Prêmio Palco MP3 e realizaram show comemorativo no Mané Garrincha.

Links: YouTube | Spotify | @tribodaperiferia

Os Novos Talentos em Ascensão

Akuma Vayon - Versatilidade do Entorno

Crescido nas periferias de Brasília, estreou oficialmente em 2022 com "Lápide", que ganhou destaque na cena local. Sua produção "GUMES" rendeu prêmio no Cinema de Expressão. Trabalha com estilos diversos, refletindo uma geração globalizada mas conectada às raízes.

Links: @akumavayon | YouTube "Lápide" | Spotify

PG 400 - O Boom Bap Brasiliense

Do Cruzeiro, especialista no estilo boom bap, resgata a essência do rap clássico com influências contemporâneas. Nascido no Acre, suas rimas afiadas carregam crítica social e vivências reais das periferias do DF. Trabalha também com MPB, bossa nova e jazz.

Links: @pg4oo | Spotify 

Prince Belofá - Afrobeats e Ancestralidade

De Taguatinga, é compositor, músico, poeta e criador de conteúdo que trabalha com afrobeats, rap e trap. Finalista do Brasília Independente 2024 e vencedor do Campeonato Distrital de Poesia Falada 2023, acumula mais de 50 mil streamings. Conecta periferias brasileiras com diásporas africanas.

Links: @prince_belofa | Spotify

Matuto - Autenticidade de Ceilândia

Cantor e compositor de Ceilândia que trabalha com rap, trap e funk. Integrante da Raro Records, acumula mais de 70 mil streams. Seus trabalhos "Dezoito Anos e Algumas Cicatrizes no Rosto" e "Aluno Nota Dez Não Precisa de Aula Extra" refletem trajetória e vivências autênticas.

Links: @matutoreal | Spotify

Diga How - Resistência do Paranoá

Grupo fundado em 2003, celebra 21 anos como símbolo de resistência. Desenvolve estilo único que busca elevar autoestima e promover consciência social. Influenciado por GOG, Raul Seixas e Bezerra da Silva, participa de congressos e festivais importantes.

Links: @digahow | Spotify

Diversidade e Representatividade

A nova cena se destaca pela inclusão. Isis Zavlyn, de Taguatinga, é multi-artista que fundou a primeira batalha de rap LGBTQIA+ do DF. Isa Marques (Sobradinho) mistura funk, R&B e afrobeats, enquanto MaCla (Guará) trabalha com R&B e afrobeats. Fehlix (Ceilândia) representa o "rap pós-algoritmo", e Hate Rct (Recanto das Emas) mantém viva a tradição das batalhas.

Festival Favela Sounds: Catalisador da Transformação

Criado em 2016, o Festival Favela Sounds é reconhecido como o maior evento de cultura periférica do mundo. Sob curadoria de Guilherme Tavares e Amanda Bittar, articula trocas culturais entre periferias brasileiras e internacionais.

Favela Sounds/ Thaís Mallon


O festival estrutura-se em quatro braços: oficinas nas quebradas, debates em escolas, atividades no sistema socioeducativo e shows gratuitos com transporte para dez regiões administrativas. Em 2017, levou 23 mil pessoas para sua programação inovadora.

O "Favela" funciona como laboratório de talentos. O grupo África Tática, por exemplo, surgiu em suas oficinas em 2016 e no ano seguinte já se apresentava no palco principal. 

O Futuro é Periférico

A cena musical periférica de Brasília consolidou-se como laboratório de inovação cultural nacional. A democratização tecnológica permitiu que artistas produzam e distribuam música com recursos limitados, enquanto plataformas digitais funcionam como vitrines globais.

A diversidade impressiona: do boom bap clássico aos afrobeats inovadores, passando pela versatilidade experimental e autenticidade crua. Essa pluralidade reflete a própria diversidade das periferias brasilienses, onde convivem diferentes origens e perspectivas.

Com artistas conquistando reconhecimento nacional, plataformas ampliando alcance e instituições como o Favela Sounds fornecendo suporte, todos os elementos estão alinhados para crescimento ainda maior. A nova geração entende que música é ferramenta de transformação social, mas também sabe ser profissional e estratégica.

A música periférica de Brasília prova que cultura nasce nas ruas, nas quebradas, onde a vida acontece de forma intensa e autêntica. O futuro da música brasileira está sendo escrito nas periferias de Brasília, e esse futuro é promissor, diverso e transformador.

Acompanhe a cena:

Festival Favela Sounds: Site | @favelasounds

 Ouça a nossa playlist “Das Quebradas ao Mainstream, o rap do DF”: