Foto: divulgação/Alê Catran
Com direção de Luís Artur Nunes e uma atuação memorável de José de Abreu, “A Baleia” chegou ao Rio em uma montagem tão intensa que a dor se transforma em pura poesia, levando o público a um mergulho profundo e inesquecível na condição humana. O espetáculo segue em cartaz no Teatro Adolpho Bloch até 20 de julho, e a gente garante que vale cada minuto.
Por: Angélica Cabral
Assistir nos palcos a adaptação de uma obra já consagrada, por si só, já é excitante. E quando esse espetáculo requer uma caracterização literalmente pesada, com o retorno de José de Abreu após mais de uma década longe da cena teatral, para dar vida à versão brasileira de “A Baleia”, a aclamada peça de Samuel D. Hunter, traduzida e dirigida por Luís Artur Nunes? A boa pedida segue em cartaz até 20 de julho, no Teatro Adolpho Bloch, na Glória, com sessões de quinta a domingo.
A montagem narra a trajetória de Charlie, um professor de inglês recluso, obeso mórbido, gay e profundamente solitário, que tenta se reconectar com a filha adolescente após anos de afastamento. A peça, escrita em 2012 por Samuel D. Hunter, ganhou projeção internacional ao ser adaptada para o cinema por Darren Aronofsky, filme que rendeu a Brendan Fraser o Oscar de Melhor Ator em 2023, por sua interpretação comovente e visceral do personagem. Para quem assistiu ao filme, prepare-se: você vai experimentar uma uma nova dimensão e uma urgência palpável no palco.
A transformação é simplesmente impressionante: José de Abreu, de 79 anos, encarna o mesmo Charlie e sobe ao palco pesando quase 300 kg, graças a uma prótese facial, figurino com enchimento, camadas de neoprene e recursos climatizados, além de bolsas de gelo para conforto... Tudo isso para dar vida e credibilidade ao corpo do artista. A caracterização vai muito além do visual; a climatização, por exemplo, é um detalhe fascinante que ajuda a manter nosso protagonista confortável durante os 100 minutos de pura intensidade dramática de cada apresentação. É um trabalho de imersão que merece aplausos à parte.

Cada elemento da produção demonstra um cuidado meticuloso: o cenário, assinado por Bia Junqueira, nos transporta diretamente para o universo claustrofóbico de Charlie; o figurino de Carlos Alberto Nunes e o visagismo de Mona Magalhães são impecáveis; a iluminação de Maneco Quinderé pontua cada emoção de forma sutil, mas poderosa; e a trilha sonora de Federico Puppi é um capítulo à parte, embalando a narrativa de forma envolvente. Integram o elenco Luisa Thiré, Gabriela Freire, Eduardo Speroni e a participação especial de Alice Borges, todos entregando atuações que complementam a força central da peça.
Exibido pela primeira vez nos EUA, em 2012, “The Whale” logo ganhou notoriedade por tratar do isolamento e da fragilidade com honestidade emocional. A peça americana foi bem recebida pela crítica, e sua segunda vida nas telas deu ainda mais visibilidade ao texto.
Com visual forte, encenação comovente e interpretação impactante de José de Abreu, tratando temas como culpa, empatia, homofobia e intolerância, “A Baleia” promete ser um dos destaques da temporada cultural carioca. A peça não apenas entretém, mas provoca, questiona e nos convida a olhar para a nossa própria humanidade. Se você busca uma experiência teatral que vai além do palco e se instala na sua mente e coração, “A Baleia” é, sem dúvida, a pedida certa. Não perca!
Serviço:
Espetáculo: "A Baleia"
Local: Teatro Adolpho Bloch – Rua do Russel, 804 - Glória
Temporada: Até dia 20 de julho
Horários: Quintas a sábados, às 20h; domingos, às 18h
Duração: 100 minutos
Venda: na bilheteria do teatro ou pelo site da Ingresso.com
Classificação: 14 anos