Luiz Otávio: talento e sensibilidade, muito além do olhar
Hoje, 22 de novembro, é Dia do Músico. Quarta-feira foi o Dia da Consciência Negra. E para representar tudo isso, a Revista Traços bateu um papo com Luiz Otávio, instrumentista, cantor, compositor, produtor musical e agora também ator... Vem conferir a história desse artista tão plural!
Autodidata, começou a tocar teclado ainda bem pequeno, aos quatro anos de idade, após aprender uma melodia de ouvido. Hoje, aos 35, seu talento já é bastante reconhecido, tendo dividido o palco com muitos dos ícones que o influenciaram no passado, e nomes como Marcelo D2, Martinho da Vila, João Bosco, Elza Soares, Mart’nália engordam essa lista...
Por falar em influências, uma das paixões do nosso homenageado é a música instrumental, que ele descobriu na adolescência, com César Camargo Mariano, Arthur Maia, Ed Motta, além de artistas do jazz norte-americano, como Chick Corea, Herbie Hancock e Pat Metheny. Hoje, nas horas vagas (poucas!), continua escutando muito jazz, black music e o que vem pintando na nova cena, para permanecer atualizado.
Os primeiros passos profissionais foram dados em Campo Grande, na zona oeste do Rio, bairro em que morava. Mas para realizar o sonho de tocar com aquela galera da primeira divisão que sempre admirou, os bares perto de casa não bastavam... Buscou outros destinos e foi parar em Niterói, onde conheceu seu ídolo, Arthur Maia, com quem trabalhou por 8 anos e que foi seu passaporte para o grande universo musical. Em paralelo, teve um professor de piano chamado Fernando Merlino, que possibilitou seu desenvolvimento no mercado da música. “Poder dividir palco com essa turma é uma alegria imensa e uma prova de que sonho, aliado à oportunidade, leva qualquer pessoa aonde ela quiser”.
Mas nada foi tão rápido e fácil quanto parece... Era uma meta na cabeça, um teclado debaixo do braço e um ônibus para transportar o homem, o músico e os seus ideais. Notoriamente, a audição e a sensibilidade eram fora da curva, mas o caminho foi difícil de ser enxergado. Luiz Otávio nasceu cego. Na gravidez, a mãe teve toxoplasmose e, como sequela, para o filho, ficou a perda da visão.
Questionado se, pelo fato de não ter um dos sentidos, isso afetava de alguma maneira a sua arte, a resposta foi categórica: “não”. E faz todo o sentido. A música é algo que pulsa em sua alma naturalmente, além de ser alimentada com a disciplina do estudo constante e de muita determinação nas coisas que quer. Ele acrescenta que ser cego acarreta problemas de acessibilidade, mas o avanço da tecnologia tem ajudado a resolver. No mais, segue fazendo o que pode para evoluir cada vez mais com o seu trabalho.
Sobre as políticas públicas de inclusão a PCDs (Pessoas com deficiência), tanto o Luiz Otávio artista quanto o cidadão acreditam que houve uma melhora. O mesmo não se pode dizer da sociedade. Para ele, o que não evolui é o pensamento de boa parte da população sobre as pessoas com deficiência. “Infelizmente ainda somos vistos e lembrados como frágeis, coitados, vulneráveis. Essa mentalidade atrapalha até mesmo a criação de políticas que realmente nos incluam”.
Numa semana de comemorações, ele vê como uma vitória o Dia da Consciência Negra ter se tornado feriado, mas espera mais... “Que essa data passe a ser um dia de real consciência sobre o nosso protagonismo!“.
E o cara não para! Está em cartaz, em São Paulo, com o espetáculo “Ray – Você não me conhece”! Segundo ele, o teatro é uma experiência incrível e vem promovendo uma revolução interna muito significativa, já que tem aprendido várias coisas não só relacionadas à arte, mas também à vida. E completa dizendo que Ray Charles mudou o rumo da música do mundo. Homem preto, cego, um gênio, com uma personalidade ímpar, que se fez enxergar numa época em que era impensável uma pessoa cega ser vista como alguém relevante. Poder representar essa fera, contar um pouco dessa história dele é maravilhoso, principalmente por causa dos muitos pontos em comum na vida com a música.
Artisticamente, uma das parcerias mais constantes é com a cantora e compositora Mart’nália, que teve início em 2021. Começou com o convite para dividir uma música com ela nos shows; depois a sambista produziu um álbum seu, intitulado “Essa maré”, que foi lançado no ano passado. No repertório, são 7 canções, sendo 4 autorais e 3 regravações. Entre as releituras, tem Djavan, Dom Beto e Arlindo Cruz. Recentemente, os papeis se inverteram e foi Luiz Otávio quem produziu “Pagode da Mart’nália”, o mais novo disco da amiga, que saiu agora, no último dia 13. O projeto reúne pagodes clássicos dos anos 90, remodelados para o estilo único dela cantar.
Se você ainda não conhece, siga @luizotavio.oficial no Instagram e acompanhe toda a potência desse multiartista. E para quem já descobriu o talento desse carioca, siga também! Você não perde por admirar!
Por: Angélica Cabral
Fotos: Catarina Ribeiro