Do Jabuti de Jorge Amado aos novos talentos, os 66 Anos do Prêmio que moldou a Literatura Brasileira

Do Jabuti de Jorge Amado aos novos talentos, os 66 Anos do Prêmio que moldou a Literatura Brasileira
Prêmio Jabuti/Divulgação


Às vésperas de conhecer os novos semifinalistas, a Traços faz uma viagem pela história do Prêmio Jabuti, para mostrar como a mais importante premiação literária do Brasil se tornou um espelho das transformações culturais e sociais do país.

Nesta semana,  leitores e mercado editorial voltam seus olhos para a Câmara Brasileira do Livro (CBL), que anunciará a aguardada lista de semifinalistas da 67ª edição do Prêmio Jabuti. Mais do que uma simples lista de indicados, o anúncio é um novo capítulo em uma história que se confunde com a própria história da literatura nacional. Desde que um jabuti de bronze foi entregue a Jorge Amado em 1959, o prêmio se consolidou tanto como um selo de prestígio, quanto como um termômetro das mudanças, tensões e inovações da cultura brasileira.

A Origem: Um Símbolo de Resistência em Tempos de Crise

O Prêmio Jabuti nasceu de um paradoxo: em um final de década de 1950 marcado por dificuldades e pouca articulação no setor livreiro, um grupo de intelectuais da CBL, liderado por Edgar Cavalheiro e Mário da Silva Brito, ousou sonhar com uma premiação que celebrasse toda a cadeia produtiva do livro. A ideia era reconhecer não só os autores, mas também editores, ilustradores, gráficos e livreiros.

A escolha do jabuti como símbolo já foi, por si só, uma declaração de resistência. O animal, figura central no folclore brasileiro e estudado por ícones como Mário de Andrade e Monteiro Lobato, representa a persistência, a sabedoria e a resiliência. A icônica estatueta foi criada pelo escultor Bernardo Cid de Souza Pinto, e sua imagem se tornaria o objeto de desejo de gerações de escritores.

A primeira cerimônia, realizada na antiga sede da CBL em São Paulo, em 1959, já mostrava a que vinha. Na categoria Romance, o grande vencedor foi Jorge Amado, com sua obra-prima "Gabriela, Cravo e Canela". Naquele ano, apenas sete categorias foram premiadas, mas elas já demonstravam a vocação do Jabuti de olhar para o livro em 360 graus, uma característica que o diferencia até hoje.

Gabriela Cravo e Canela, 1958

 

Um Espelho da Sociedade: A Evolução do Jabuti

Ao longo de mais de seis décadas, a premiação funciona como um espelho, refletindo as novas demandas sociais, tecnológicas e de mercado. O prêmio, que começou com sete categorias, hoje conta com mais de 20, organizadas em quatro eixos robustos:  Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação.

Nos anos 60 e 70, o prêmio se abriu para obras científicas e de ciências humanas, validando a produção acadêmica nacional. A grande reforma de 2018 modernizou a estrutura, tornando-a mais ágil e conectada com o leitor contemporâneo. Nos últimos anos, o Jabuti abraçou gêneros antes marginalizados, com a criação de categorias como Histórias em Quadrinhos (2017) e Romance de Entretenimento (2020), dando espaço para a ficção de gênero (policial, fantasia, suspense) competir em pé de igualdade.

Mais recentemente, o prêmio passou a celebrar a internacionalização da literatura brasileira com a categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior e a revelar novos talentos com o Escritor Estreante. As novidades de 2024, com a criação de categorias como Saúde e Bem-Estar, Educação e Negócios, mostram um prêmio atento aos temas que movem a sociedade atual.

Castanha do Pará, Gidalti Junior


Receber um Jabuti é entrar para um seleto grupo da literatura brasileira. A lista de vencedores é um verdadeiro panteão de imortais. Além de Jorge Amado, a estatueta já foi para as mãos de
Clarice Lispector por "A Hora da Estrela", Lygia Fagundes Telles por "As Meninas", Rachel de Queiroz por "Memorial de Maria Moura" e, mais recentemente, Itamar Vieira Junior, pelo fenômeno "Torto Arado". Nomes como Chico Buarque, Marina Colasanti e Contardo Calligaris também figuram na galeria de premiados, mostrando a diversidade e o alcance do prêmio.

Ao anunciar os semifinalistas de 2025, o Prêmio Jabuti dará início a mais uma corrida pela cobiçada estatueta, reafirmando seu papel de guardião da memória e de impulsionador do futuro da literatura brasileira. A lista deste ano, assim como as das últimas 66 edições, nos dirá muito sobre o Brasil que somos e o que lemos. E a pergunta que fica é: quem serão os próximos a deixar sua marca nessa longa e prestigiosa história?