Quer um programa leve e ao mesmo tempo que mexa com suas memórias afetivas? Se liga nessa dica da Revista Traços: assista “Músicas que fiz em seu nome”, no Teatro Adolph Bloch, na Glória, com a maravilhosa Laila Garín!
Por Angélica Cabral
Fotos: Caio Galucci (capa) e Van Brígido
Neste espetáculo, a artista assume múltiplos papeis: escreve, dirige e apresenta uma comédia musical, que mistura humor, canção e reflexão, provocando uma identificação imediata do público. No centro da peça, ela vive uma mulher que decide submeter-se a um procedimento revolucionário para apagar lembranças dolorosas pouco antes do casamento. Essa premissa já dispara perguntas sobre o que somos sem as marcas do passado e se a tentativa de reescrever a própria história não transformaria a vida numa farsa. A montagem, assinada também por Tauã Delmiro, usa a leveza da comédia para tratar com maciez temas existenciais e afetivos.
A direção é feita em conjunto com Gustavo Barchilon; já a direção musical é de Tony Lucchesi. A consultoria fica a cargo da filósofa e psicanalista Viviane Mosé, que inspirou a narrativa a partir de uma fala emblemática: “Na tentativa de não sofrer, terminamos optando por não existir...”. No palco, a atuação cênica e o canto de Laila Garin vêm sendo (merecidamente!) destacados pela crítica: a atriz equilibra timing cômico e densidade emocional, transformando canções brasileiras em dispositivo dramático que amarra a piada e a sensação de perda.

Em linguagem enxuta, a montagem de 70 minutos aposta em um cenário funcional e direção centrada no corpo da intérprete, privilegiando o diálogo direto com a plateia e arrancando risos e suspiros em igual medida. A trilha recorre a referências da MPB, agrupando 18 sucessos do cancioneiro popular. O repertório é colocado a serviço da ironia e do afeto, e a encenação equilibra números musicais com momentos de prosa incisiva, frequência que transformou a produção numa das estreias mais comentadas da atualidade.
Depois da temporada vitoriosa no Rio, o espetáculo seguirá para Belo Horizonte. Assim como na Cidade Maravilhosa, a capital mineira vai se encantar com o equilíbrio necessário do palco para a vida, que insiste em exigir limites entre o bem o mal, a tristeza e a alegria, a liberdade e o controle social. Afinal, até que ponto nossas vivências constituem nossa identidade?

Aproveite e garanta logo seu ingresso, porque “Músicas que fiz em seu nome” fica em cartaz só até dia 9 de novembro! Sem dúvida, uma escolha certeira para quem aprecia boa música, história reflexiva, um teatro aconchegante e uma atriz que domina palco, voz e emoção. A dramaturgia provoca um público que se reconhece em lembranças, expectativas e no desejo de se reinventar.
Serviço
Músicas que fiz em seu nome
Local: Teatro Adolph Bloch, Rua do Russel, 804 — Glória, RJ.
Temporada: 17/10 a 09/11, quintas a sábados às 20h; domingos às 17h.
Duração: aprox. 70 min.
Classificação etária: 12 anos.
Ingressos: na bilheteria do teatro ou no site ingresso.com