No palco quase nu do Teatro Riachuelo Rio, dois corpos se encontram. Não existe cenário grandioso, nem personagens definidos. O que há é o desejo de conversar e de ser ouvido. Em “O que só sabemos juntos”, Denise Fraga e Tony Ramos fazem do palco um espaço de reencontro. Reencontro com o outro, com a coletividade e com algo que anda escasso em tempos de redes e ruídos: a empatia.
Por Angélica Cabral
Fotos: Divulgação
O espetáculo, em cartaz até o dia 30 de novembro, marca o primeiro trabalho conjunto desses dois grandes nomes da cena brasileira. Sob a direção de Luiz Villaça, a peça nasce da inquietação de um trio criativo formado por Denise Fraga, Villaça e Vinícius Calderoni. Eles partiram de uma pergunta simples e devastadora: o que é que só podemos saber juntos?
A resposta vem em fragmentos. Entre lembranças, risadas, pequenas confissões e provocações filosóficas, a montagem vai costurando um mosaico de experiências humanas. Há humor, poesia e momentos em que a emoção suspende o tempo. É uma obra que convida à pausa e, paradoxalmente, pulsa com as urgências do presente.
Com a delicadeza de quem entende a palavra como gesto político, Tony e Denise transitam por temas como crise climática, isolamento, patriarcado, tecnologia e desigualdade. Mas, acima de tudo, falam de afeto. A cena se torna um laboratório de escuta, um lugar onde a arte se opõe à pressa e à indiferença.
A trilha sonora ao vivo é conduzida por Fernanda Maia e executada por uma banda inteiramente feminina (Priscila Brigante, Clara Bastos, Grazi Pizzani, Taís Cavalcanti e Ana Rodrigues), que vira quase uma personagem. As músicas atravessam o texto como sopros, às vezes delicados, às vezes vibrantes, revelando camadas invisíveis da dramaturgia.
Inspirado em autores como Tchékhov, Brecht, bell hooks, Annie Ernaux e Olga Tokarczuk, o texto mistura filosofia, literatura e cotidiano. Os atores são intérpretes e, ao mesmo tempo, narradores de um tempo em que o individualismo ameaça a ideia de comunidade. Em uma das passagens mais tocantes, Tony e Denise lembram que “não há salvação possível na solidão” — frase que sintetiza a alma do projeto.
O resultado é um teatro de ideias, mas também de carne e osso. Um teatro que se constrói na relação entre quem fala e quem escuta. “O que só sabemos juntos” é, no fundo, um convite: a reaprender a olhar o outro.
Além da força artística, a peça também se destaca pela acessibilidade: todas as sessões contam com intérprete de Libras, audiodescrição e monitoria para pessoas neurodivergentes, uma iniciativa rara nos palcos brasileiros e que reforça o compromisso do projeto com a inclusão.
Com 80 minutos de duração, o espetáculo se encerra deixando no ar uma pergunta que ecoa muito além da sala: o que, de fato, ainda conseguimos construir juntos?
Serviço:
O Que Só Sabemos Juntos
Local: Teatro Riachuelo Rio – Rua do Passeio, 38, Centro
Temporada: até 30 de novembro de 2025
Horários: Sextas e sábados, às 20h; domingos, às 17h
Duração: 80 minutos
Ingressos: de R$ 25 a R$ 200
Mais informações: teatroriachuelorio.com.br
Classificação: 12 anos