Rota do grafite: quatro espaços para conhecer no DF

Rota do grafite: quatro espaços para conhecer no DF

A edição 78 da Revista Traços DF é uma ode às artes visuais. Nela, você pode conferir a história de diversos artistas do grafite da cidade, como Toyz, Omik e Brixx Furtado. O trabalho deles pode ser admirado em diversos pontos do quadradinho, transformando o DF em uma verdadeira galeria a céu aberto. Fique agora com o mapa da mina: dicas de lugares para apreciar a arte urbana em Brasília, um convite para explorar as cores e formas que dão vida ao concreto

Por: Sara Barreto


O grafite nasce como ferramenta de contracultura, que questiona valores e normas estabelecidas socialmente. Por meio dessa manifestação, a arte não se restringe aos museus e se torna mais acessível, uma vez que se desenvolve e se manifesta nas ruas, interagindo com a arquitetura e com o cotidiano da cidade. 

Em Brasília, a história do grafite começa a ganhar força nos anos 1990, com influências do movimento hip-hop que se fortalecia no Brasil. A cidade planejada, com seus amplos espaços e superfícies de concreto, tornou-se uma tela perfeita para os primeiros grafiteiros que buscavam expressar suas visões sobre a capital federal e suas contradições sociais.

Inicialmente visto como vandalismo, o grafite no DF passou por um processo de legitimação ao longo das últimas duas décadas. Em 2021, um marco importante foi o investimento histórico de R$336 mil no projeto "W3 – Arte Urbana", que selecionou 27 artistas para transformar a paisagem de uma das principais avenidas da cidade. Este projeto representou um reconhecimento oficial do grafite como expressão artística e cultural legítima.


E por falar em W3...

Quem passa diariamente pela W3 Sul certamente já notou a presença dos grafites – com cores intensas, formas e mensagens impactantes – que adornam fachadas de prédios, comércios e até residências.

Um passo importante para que isso acontecesse foi o projeto "Obra à Frente", criado em 2019. Ele conectou moradores e comerciantes da W3 com artistas locais, permitindo que proprietários de imóveis cedessem suas fachadas para intervenções artísticas. Esta iniciativa colaborativa não apenas embelezou a avenida, mas também fortaleceu os laços comunitários e o sentimento de pertencimento ao espaço urbano.

Foto: Thaís Mallon/Espaço Cultural Renato Russo


Da mesma forma, nas mais de 27 paradas de ônibus, distribuídas em 10km de avenida, o grafite é elemento que embeleza e diferencia o dia a dia dos cidadãos que usufruem dos espaços públicos da região.

Dica de visita: Comece seu tour pela quadra 503 Sul e caminhe em direção à 511 Sul para ver alguns dos murais mais impressionantes. As paradas de ônibus entre as quadras 504 e 508 Sul também abrigam obras notáveis, cada uma com um estilo único.


Estação de Metrô Ceilândia Centro e Norte

O Projeto Estação Grafite é uma iniciativa que tem transformado diversas estações do Metrô do Distrito Federal em galerias de arte urbana. O objetivo principal é levar cultura, educação e responsabilidade social aos usuários do metrô por meio do grafite.

Em 2023, a Estação Ceilândia Norte teve 500 metros quadrados de muro externo transformados por 12 grafiteiros. Em 2025, os paredões da Estação Ceilândia Centro ganharam vida com grafites que fazem parte de uma homenagem aos 54 anos de Ceilândia. 

As obras realizadas vão além da estética, carregando mensagens de identidade, resistência e transformação social. O projeto nas estações de Ceilândia tem um significado especial, pois a região é considerada um dos berços do movimento hip-hop no DF, com forte tradição em todas as suas expressões: grafite, breaking, rap e DJing. Os murais não apenas embelezam o espaço, mas também contam a história da comunidade local e suas lutas.

Entre os artistas que participaram das intervenções estão nomes como Brixx Furtado, que criou um painel representando a força da mulher periférica, e Toyz Daniel, com uma obra que homenageia os pioneiros da cidade.


Foto: @grafitebrasilia/Daniel Toys

Dica de visita: As estações estão abertas durante todo o horário de funcionamento do metrô (5h30 às 23h30). Para uma experiência completa, visite ambas as estações e observe como os diferentes estilos dialogam com a arquitetura e o movimento dos passageiros.


Setores Comerciais 

Em diversos prédios e paredes dos setores comerciais Sul (SCS) e Norte (SCN), principalmente em áreas de grande circulação, encontram-se murais e grafites que embelezam fachadas e becos.

O Setor Comercial Sul passou por um processo de revitalização através da arte urbana nos últimos anos. O que antes era visto como uma área degradada do centro da cidade, hoje abriga um dos maiores acervos de arte urbana a céu aberto de Brasília.
Em 2022, a Câmara de Dirigentes Lojistas do DF (CDL/DF) lançou um projeto de revitalização que incluiu a criação de murais em diversos pontos do setor. A iniciativa não apenas transformou visualmente o espaço, mas também contribuiu para atrair mais visitantes e dinamizar o comércio local.
Um dos destaques é o "Beco da Cultura", uma passagem entre os blocos B e C que foi completamente transformada por intervenções artísticas, que representam a diversidade cultural do DF, com elementos que remetem tanto à arquitetura modernista quanto às manifestações culturais das cidades-satélites.


Foto: Tomás Faquini/Beco da Cultura


Dica de visita:
O melhor horário para visitar é pela manhã, quando o movimento é menor e você pode apreciar as obras com calma. Comece pelo "Beco da Cultura" e depois explore as fachadas dos edifícios ao redor.

Parque da Cidade

No Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, a arte urbana tem ganhado destaque, especialmente nos últimos meses de 2024 e início de 2025, por meio de iniciativas que transformam entradas e outros pontos em galerias ao ar livre.

Recentemente, diversos grafites foram realizados como forma de homenagem a figuras icônicas da história do Distrito Federal, como Burle Marx, Vitória Mesquita, Lúcio Costa, Darcy Ribeiro, Cássia Eller, Joaquim Cruz, Sarah Kubitschek e Bernardo Sayão. Todas as artes foram feitas por artistas visuais consagrados na cena da cidade.

Os murais não só embelezam o parque, mas também contam um pouco da história de Brasília e apresentam as personalidades que construíram e moldaram a cultura da cidade.

O projeto "Memória Viva", responsável por essas intervenções, foi uma iniciativa da Secretaria de Cultura em parceria com a administração do parque. Além dos murais, foram instalados QR codes próximos às obras que, quando escaneados, direcionam o visitante para conteúdos sobre a história das personalidades retratadas.

Um dos destaques é o mural dedicado a Cássia Eller, criado por Brixx Furtado na entrada do estacionamento 10. A obra retrata a cantora em um momento de performance, com elementos que remetem às suas músicas mais conhecidas e à sua conexão com Brasília.

Dica de visita:
As obras estão espalhadas por diferentes pontos do parque. Comece pela entrada principal (Estacionamento 1) e siga em direção ao Estacionamento 10, onde estão concentrados alguns dos murais mais impressionantes.

Foto: Cilene Vieira/Parque da Cidade


Encontro de Grafite

No segundo semestre de 2025, deve acontecer o 6º Encontro de Grafite. Por meio de edital de chamamento público aberto anualmente, são selecionados os artistas que receberão cachê para realização das intervenções artísticas no evento. Podem participar do Encontro, grafiteiras e grafiteiros residentes no Distrito Federal e RIDE.

O evento é aberto ao público e o convida a acompanhar o processo de criação, interagir com os artistas e participar de atividades paralelas, como shows de rap, batalhas de breaking, feiras de produtos artesanais, e áreas para crianças.