Bendegó, meteorito que viu nascer a República, lidera renascimento do Museu

Bendegó, meteorito que viu nascer a República, lidera renascimento do Museu
Foto: Felipe Cohen


Museu Nacional, no Rio de Janeiro, reabre parcialmente as portas e convida o público a reencontrar um de seus maiores símbolos, o meteorito Bendegó, e a testemunhar o renascimento de um dos mais importantes espaços de memória e ciência do Brasil. A exposição “Entre Gigantes”, em cartaz até 31 de agosto, marca esse retorno histórico, com uma experiência que mistura ruínas, reconstrução e esperança.


Por: Angélica Cabral


Sete anos após o trágico incêndio que, em setembro de 2018, consumiu mais de 90% do acervo original, o Museu Nacional reabriu parcialmente suas portas ao público nesta quarta-feira, dia 2 de julho. A exposição temporária “Entre Gigantes: Uma Experiência no Museu Nacional” marca o retorno do público, que poderá agendar entrada gratuita, por meio da plataforma Sympla. A visitação acontece de terça a domingo, e vai até 31 de agosto.

A mostra ocupa três espaços recuperados em fase inicial de restauro no Paço de São Cristóvão, o palácio que serviu como residência oficial da Família Real Portuguesa (1808-1821) e da Família Imperial Brasileira (1822-1889), antes de se tornar sede do Museu Nacional em 1892. Logo no hall de entrada, destaca-se o meteorito Bendegó, com mais de cinco toneladas, que sobreviveu ao fogo e permanece símbolo de resiliência da instituição.

Entre gigantes do mar e do espaço

Entre as novidades, uma nova peça chama a atenção: o esqueleto de um cachalote, que tem 15,7 metros de comprimento e pesa cerca de três toneladas. Ele foi encontrado no Ceará em 2014, passou por dois meses de restauração e agora está afixado na nova claraboia do edifício. A instituição lançou uma campanha para a população escolher um nome para a baleia, que é a maior dessa espécie exibida aqui, na América do Sul.

Na terceira e última sala, dá para conferir um pouco da história do Museu e da reconstrução do palácio. Destaque para aspectos arquitetônicos e peças do acervo original, como duas esculturas de mármore de Carrara. Itens artísticos também estão em exposição, além de imagens feitas durante a obra de recuperação.

Foto: Felipe Cohen


Para além do simbolismo, a visitação aberta ao público funciona como um “canteiro aberto”: as paredes previamente carbonizadas foram retomadas à sua coloração de origem, enquanto trechos ainda exibem marcas da tragédia, compondo um cenário de contraste entre ruína e reconstrução. No chamado “Espaço Memória”, previsto para fases posteriores, o prédio histórico, que já abrigou a família imperial brasileira, deixará visível estruturas danificadas como cicatriz, a fim de preservar a lembrança do que aconteceu.

A previsão para a reforma completa é para 2027, com todas as dependências concluídas e reinauguradas, e um custo estimado de 516 milhões de reais. Desse total, R$ 347,2 milhões já foram captados com entes públicos e empresas privadas, sendo a maior parte (R$ 100 milhões) repassada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dados do Ministério da Educação informam que ainda há necessidade de pelo menos R$ 170 milhões para concluir o trabalho.


Renascimento científico e cultural



Foto: Roberto Silva


A reabertura é fundamental também para a retomada da intensa rotina acadêmica e de pesquisa da instituição. O reitor da UFRJ, Roberto Medronho, ressalta que o museu é “um ícone nacional não só histórico e cultural, mas também científico” e forma pesquisadores para todo o país e o mundo. A exposição foi realizada em parceria com o Projeto Museu Nacional Vive, uma cooperação técnica entre a UFRJ, A UNESCO e o Instituto Cultural Vale.

O projeto de reconstrução vai reconstituir e expandir capacidades museográficas, sistemas de conservação, acessibilidade, segurança contra incêndio e reforço estrutural do velho palácio. Com isso, o Museu Nacional consegue reassumir seu papel como plataforma de memória, educação e pesquisa. Entre paredes que testemunharam a tragédia e objetos que resistiram às chamas, ele convida o público a reescrever sua história, a partir de agora, “Entre Gigantes”. Vamos conferir?

O meteorito que testemunhou a história do Brasil

A história do Bendegó é uma verdadeira epopeia que atravessa séculos da história brasileira. A pedra foi descoberta em 1784 pelo jovem pastor Domingos da Motta Botelho no sertão da Bahia.
Após a descoberta inicial, o meteorito ficou abandonado na beira de um riacho por quase um século, sendo visitado apenas por missões científicas que coletavam amostras para comprovar as primeiras teorias sobre pedras vindas do espaço. A virada em sua história aconteceu em 1886, quando o imperador D. Pedro II estava na França participando de um evento da Academia de Ciências de Paris. Ao conhecer a história do Bendegó, o monarca decidiu patrocinar uma expedição para trazê-lo ao Rio de Janeiro, onde foi foi recebido pela Princesa Isabel. Integrado ao acervo do Museu Nacional, que à época ficava no Campo de Santana, no centro da cidade, o Bendegó "testemunhou de camarote" outro evento histórico fundamental: a Proclamação da República em 1889. Alguns dos eventos que culminaram na queda de D. Pedro II e na ascensão do Marechal Deodoro da Fonseca como primeiro presidente aconteceram ali no Campo de Santana, local que hoje é conhecido como Praça da República.


SERVIÇO
Entre Gigantes: Uma Experiência no Museu Nacional
Período: de 2 de julho a 31 de agosto
Visitação: de terça a domingo
Ingresso Gratuito: Sympla