“Quando se tem o álibi de ter nascido ávido” — Djavan em cena, som e história

“Quando se tem o álibi de ter nascido ávido” — Djavan em cena, som e história

Por Angélica Cabral

A Revista Traços marcou presença no Teatro Multiplan, na Barra da Tijuca, para conferir “Djavan – O Musical: Vidas Pra Contar”, um mergulho com delicadeza e ousadia na trajetória de um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. Criado por Gustavo Nunes, escrito a quatro mãos por Patrícia Andrade e Rodrigo França, e sob a direção de João Fonseca, o espetáculo vai muito além de um mero tributo. Ele propõe uma leitura poética da vida e da obra do cantor e compositor alagoano, valorizando não só suas canções, mas também os contextos emocionais, culturais e sociais do artista.

Durante duas horas, o público faz um passeio desde a infância do menino de Maceió até sua consagração como cantor, compositor e músico renomado. No repertório, estão muitos dos clássicos que marcaram uma carreira vitoriosa e algumas daquelas canções mais lado B,  para, propositalmente, traduzir a vastidão da obra... A certeza de que, “se tivesse mais alma pra dar”, ele daria...

Para dar vida ao ícone, o ator Rafael Elias foi escolhido após uma rigorosa seleção com mais de 250 artistas. O Djavan dos palcos cariocas tem muitas coisas em comum com o homenageado: ambos são negros, tiveram incentivo da mãe para ingressar no mundo artístico e passaram também por muitas dificuldades para conseguir um lugar ao sol.

Crédito: André Wanderlei

Em cena, tem ainda Marcela Rodrigues, que faz Dona Virgínia, mãe de Djavan; Ester Freitas, na pele de Djanira, sua irmã; Alexandre Mitre, que interpreta Djacir, seu irmão mais velho; e Eline Porto, que vive Aparecida, sua ex-mulher. Aline Deluna é Maria Bethânia; Érika Affonso encarna Alcione; Gab Lara representa Chico Buarque; Tom Karabachian dá voz a Caetano Veloso; Walerie Gondin é Gal Costa e Rafaella, esposa atual; além de Milton Filho, que representa Elegbara, entidade afro‑brasileira presente na trama. Douglas Netto, ator que substitui Rafael Elias, também interpreta diversos personagens ao longo da narrativa, assim como todo o elenco, que se divide e se multiplica para poder mostrar o homem, o astro, seus afetos e sua arte.

Musicalmente, o espetáculo é um deleite: os arranjos respeitam as composições originais, mas ganham nuances teatrais, sem perder o suingue e a sofisticação que marcam a sonoridade de um dos artistas mais geniais de todos os tempos. A direção musical é de João Viana, filho de Djavan, e de Fernando Nunes.

Depois do Rio, a montagem segue para São Paulo, para uma temporada no Teatro Sabesp Frei Caneca, a partir de agosto.

Além de exaltar a obra, “Djavan – O Musical” convida à reflexão sobre temas caros ao Brasil contemporâneo: racismo, desigualdade, resistência cultural e amor, tudo isso em suas formas mais amplas. O texto é entremeado por trechos biográficos e por frases emblemáticas ditas ao longo de sua carreira, criando um elo afetivo com o público.

Em uma era marcada por reinvenções e revivals da MPB, a produção se destaca por sua proposta estética refinada, seu respeito à trajetória do artista e a forma como traduz, para o palco, a alma de uma obra que, há décadas, emociona, inspira e arrebata gerações.

Para os fãs e para aqueles que querem “Djavanear o que há de bom”, o espetáculo é uma oportunidade única de revisitar canções inesquecíveis sob uma nova perspectiva. Mais do que um show, é uma experiência sensorial, afetiva e profundamente brasileira.

Serviço: 

Espetáculo: "Djavan – O Musical: Vidas Pra Contar".

Local: Teatro Multiplan – Village Mall – Av. das Américas, 3.900 – Barra da Tijuca – RJ.

Temporada: Até dia 20 de julho 2025.

Horários: Quinta e sexta, às 20h; sábado e domingo, às 16h.

Duração: 120 minutos.

Venda: na bilheteria do teatro ou pelo site da Sympla.

Classificação: 12 anos.