Orgulho de transformar o palco em território de afeto, resistência e liberdade!
Por: Angélica Cabral
Aproveitando a Semana do Orgulho LGBTQIAPN+, a Revista Traços indica um espetáculo que estreou nesta quinta-feira, dia 26, no Sesc Tijuca, para celebrar a diversidade e a luta contra o preconceito. “Essa peça tem beijo gay” foi escrita a quatro mãos por Leandro Fazolla e Rohan Baruck, que também entram em cena, sob a direção de Dadado de Freitas. Durante todo o mês de junho, manifestações culturais têm se espalhado pelo país para abordar a temática e essa montagem veio bem a calhar: é um manifesto vivo e urgente!
A ideia central é fazer o espectador refletir sobre a repulsa e a censura (in)direta que um ato simples de carinho entre pessoas do mesmo sexo costuma causar. Isso sem falar no pré-julgamento de quais afetos são permitidos ou não em público; claro, sob uma ótica conservadora. Por isso, o título provocativo não esconde a intenção da obra: afirmar o direito de existir, amar e ocupar todos os espaços, inclusive o palco.

A origem do espetáculo tem múltiplos porquês: desde os alardes causados pelo “beijo gay” nas novelas até a proibição do gesto pelo ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, na Bienal do Livro, em 2019. Vale ressaltar que essas questões fazem parte do cotidiano de boa parte da equipe, formada em sua maioria por profissionais LGBTQIAPN+.
A montagem propõe uma experiência que vai além da sala de teatro: é um espaço de cura coletiva, onde o riso, o choro e o desconforto caminham juntos. O público é interpelado diretamente, convidado a pensar sobre suas próprias intolerâncias, silêncios e alianças. Tudo isso com uma linguagem cênica ágil, uma trilha sonora sensorial e uma cenografia minimalista que dá protagonismo ao corpo e à palavra.
Em tempos de retrocesso até no campo das artes, “Essa peça tem beijo gay” resiste com sensibilidade e inteligência. O beijo que escandaliza alguns, ali é exaltado como ato político, poético e profundamente humano. É um lembrete de que ainda é necessário afirmar o óbvio: que o sentimento não tem orientação sexual, e que o teatro pode (e deve!) ser um espaço de afirmação dessa liberdade.
Os autores, no entanto, reforçam que o espetáculo se propõe a falar do amor e de suas nuances, e que, numa relação homoafetiva, aquilo que se sente é tão amor quanto em qualquer outra relação. Não há razão para ser visto como um tema maldito. “Nosso público poderá se afetar por personagens em um momento limite que causa uma montanha-russa de emoções. Apenas no meio disso tudo há um beijo gay”, pontua o diretor.

A título de informação, o Dia do Orgulho marca a Revolta de Stonewall, um movimento que aconteceu em 28 de junho de 1969, em frente ao bar Stonewall Inn, em Nova York. Ativistas se reuniram e atiraram pedras na polícia, a fim de protestar contra a violência sofrida pela comunidade LGBTQIAPN+. Essa data se tornou um símbolo importante em todo o mundo pelos direitos civis conquistados por essa parcela da população.
Ratificando os versos de Lulu Santos: “Consideramos justa toda forma de amor” e, agora, durante o Mês do Orgulho, enquanto as ruas se enchem de cores e vozes pedindo respeito, o palco do Sesc Tijuca oferece um espetáculo que emociona, provoca e inspira. Uma obra feita por e para quem não aceita mais viver no silêncio.
Serviço:
Espetáculo: "Essa peça tem beijo gay"
Local: Sesc Tijuca - Teatro 2. Rua Barão de Mesquita, nº 539 - Tijuca.
Temporada: De 26 de junho a 27 de julho. Faz uma pausa entre os dias 10 e 13 de julho. Horários: Quintas, sextas e sábados, às 19h; domingos, às 18h.
Duração: 70 minutos.
Ingressos: R$ 10 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira).
Classificação: 14 anos.