Brasília em traços: conheça a arte de Jailson Belfort

Brasília em traços: conheça a arte de Jailson Belfort

Artista plástico que adotou a Capital Federal como lar retrata monumentos da cidade usando caneta esferográfica e papel em criações cheias de detalhes 

Por: Mariana Vieira
Fotos: reprodução 


Com traços precisos e detalhes minuciosos feitos à mão, Jailson Belfort faz um trabalho de tirar o fôlego. Literalmente. “Quando vou fazer uma linha longa, percebo que eu prendo a respiração, é uma forma de me concentrar e deixar mais firme o traço”, explica. 

Toda sua produção, que já acumula 180 obras, é feita com canetas esferográficas, sem régua, sem atalhos, apenas papel e caneta. 

O artista visual maranhense escolheu Brasília como lar e aqui reside há mais de 25 anos. Com formação em desenho industrial pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, veio para o Distrito Federal em busca de novas oportunidades profissionais e se encantou pela cidade.

“Brasília me inspirou e me inspira! Quando eu cheguei, a beleza natural da arquitetura de Niemeyer me instigou.”

O contraste entre sua cidade natal e a arquitetura modernista de Niemeyer - com igrejas curvilíneas, palácios de concreto com poucas janelas e formas ousadas - o inspirou profundamente. Esse impacto foi tão forte que ele decidiu que um dia faria desenhos de pontos turísticos de Brasília, embora tenha levado algum tempo para concretizar esse desejo. “Eu comecei a desenhar para trabalhos de publicidade, depois fiz figuras mais infantis, mas foi quando resolvi retratar os monumentos da cidade que meu trabalho tomou forma”.

Em 2018, ele inaugurou sua primeira exposição, composta de 60 obras, chamada “Caneta Criativa”,  no Supremo Tribunal Federal (STF), onde trabalhava à época. 

Brasília em linhas (2020) foi sua exposição subsequente, inaugurada no espaço Lúcio Costa, na Praça dos Três Poderes. “Para mim é uma honra ter minha obra, o mapa de Brasília, reproduzido ali, um espaço tão simbólico”, conta. Isto porque, mesmo depois do fim da mostra, a diretoria do espaço pediu para manter o painel, que até hoje faz sucesso em fotos dos turistas e visitantes do local.  

Desde então, realizou exposições anuais em espaços prestigiados como o Espaço Cultural Renato Russo, Espaço Caixa Cultural, Biblioteca Demonstrativa do Brasil e livrarias. 
O ritmo intenso de exposições - chegando a seis em 2023 - levou o artista a fazer uma pausa estratégica. "Era desgastante. Precisava me dedicar a outras coisas, como desenvolver produtos", explica. Agora, em 2025, ele está novamente aberto a convites, mantendo sua postura de não correr atrás, mas acolher as oportunidades que surgem.


Arte por toda parte

Além de figurar em fotos nas redes sociais, a arte de Jailson alça voos diferentes com sua marca Caneta Criativa. “Sou muito criterioso com minha produção e com o tipo de produto que vou fazer a partir disso”, explica.

Em parceria com diversos espaços da cidade, ele desenvolveu jogos educativos, quebra cabeça, cartões postais, imãs e quadros que estampam pontos icônicos da Capital. “Muitas pessoas que compram são de outros países; os postais são bilíngues, em inglês e português, e é uma alegria saber que meus traços estão por aí, ganhando o mundo”, conta. 


Educando com caneta

Um dos aspectos mais gratificantes do trabalho de Jailson são as oficinas de desenho que realiza durante as exposições, especialmente em escolas públicas. Com uma proposta inovadora, ele desafia as crianças a abandonarem o lápis e abraçarem a caneta como ferramenta artística.

"Para elas é um divisor de águas. Eu chego nesse momento de transição do lápis para a caneta e ensino minhas técnicas de preenchimento", explica. Durante as oficinas, ele não apenas compartilha técnicas, mas também conscientiza sobre a importância de preservar e desenhar os monumentos de Brasília. "Quanto menor a criança, melhor fica o trabalho. É impressionante", observa com entusiasmo.


Do concreto para o orgânico 

Este ano, Jailson Belfort  iniciou uma mudança significativa em sua trajetória artística. Sem abandonar completamente os monumentos que o consagraram, o artista agora volta seu olhar para o Cerrado, abraçando uma pegada totalmente ecológica.

"Estou mudando tudo: o papel, o tema, a abordagem. Vou usar caneta reciclável e papel artesanal do Cerrado. Os desenhos serão sobre a fauna e flora local", revela sobre sua próxima série, ainda em produção. Esta nova fase representa uma evolução natural: do mundo construído para o mundo orgânico, da arquitetura para a natureza.

“Estou fazendo estudos de artes sobre a fauna e a flora do nosso Cerrado, utilizando papéis artesanais. Para mim, um desafio, pois estou explorando um conceito mais orgânico, seja por conta da temática, da técnica e do papel. E está sendo ótimo e desafiador!”

Neste estudo, utiliza canetas esferográficas feitas com 74% de plástico reciclável em papéis distintos. Em parceria, conto com a mestre-artesã Gizelma Fernandes e seu incrível trabalho na criação e produção de papéis artesanais. 

Para quem começou desenhando por inspiração da cidade, Jailson Belfort hoje inspira uma nova geração a olhar, preservar e eternizar em traços de caneta tanto o patrimônio arquitetônico quanto natural de Brasília e do Brasil. 

Siga o artista: @jailsonbelfort