Uma data marcada pelo massacre de Sharpeville, a luta por igualdade e a valorização do candomblé
Por: Rick Barros
Foto: Mav Matheus
O dia 21 de março não é apenas um marco na luta contra o racismo, mas também uma data de celebração e resistência para as tradições de matriz africana. Além de ser reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial, no Brasil, a data também celebra o Dia das Tradições das Raízes Africanas e das Nações do Candomblé, reforçando a importância da preservação da cultura afro-brasileira.
A origem do 21 de março como símbolo de combate ao racismo remonta a 1960, quando um protesto pacífico contra as leis segregacionistas do apartheid na África do Sul terminou em tragédia. Conhecido como Massacre de Sharpeville, o episódio resultou na morte de 69 manifestantes e feriu outros 186, revelando ao mundo a brutalidade do regime racista. Em memória às vítimas, a ONU instituiu a data como um compromisso global pela igualdade racial.
No Brasil, a celebração das tradições africanas nesse dia é um ato de resistência frente à intolerância religiosa e ao racismo estrutural que ainda marginalizam as religiões de matriz africana. O candomblé, com suas nações e rituais ancestrais, carrega consigo a força e a espiritualidade dos povos africanos, preservando saberes, identidades e uma relação profunda com a natureza e a coletividade.
Marchas pelo fim do apartheid: o impacto além de Sharpeville
O massacre de Sharpeville, em 21 de março de 1960, foi o episódio mais marcante da repressão ao protesto contra as leis segregacionistas do apartheid, mas não foi o único. Manifestações semelhantes ocorreram em outras cidades sul-africanas, mobilizando milhares de pessoas nas periferias. Em Langa, bairro da Cidade do Cabo, a repressão policial também foi violenta, resultando na morte de três manifestantes e deixando 26 feridos. Em Soweto, outra região que se tornou símbolo da luta contra o apartheid, a mobilização popular também marcou o dia.
Naquele momento, líderes como Albert Luthuli, então presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), enfrentavam constantes perseguições do governo. Luthuli, que já havia sido banido por seu ativismo contra o apartheid, desafiou as autoridades ao queimar publicamente seu passe — documento obrigatório para negros sul-africanos circularem pelo país. O ato lhe rendeu mais uma prisão, mas, no ano seguinte, em 1961, seu papel na luta pela igualdade foi reconhecido internacionalmente, tornando-o o primeiro africano negro a receber o Prêmio Nobel da Paz.
Nelson Mandela, outro ícone da resistência, teve um papel decisivo na resposta ao massacre. Após a violência do regime sul-africano, ele ajudou a estruturar um braço paramilitar do ANC para organizar uma resistência armada contra o governo de minoria branca. Em 1961, foi preso sob acusação de traição, mas acabou absolvido. No entanto, um ano depois, foi novamente detido por sair do país sem permissão e condenado a cinco anos de prisão na ilha de Robben Island. Em 1964, foi julgado novamente, dessa vez por sabotagem, e sentenciado à prisão perpétua, junto a outros líderes do movimento.
As marchas de 1960 marcaram um divisor de águas na luta contra o apartheid, ampliando a pressão internacional sobre o governo sul-africano e fortalecendo a resistência interna. Anos depois, a data se consolidaria como um símbolo global contra o racismo, sendo reconhecida pela ONU como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial.
Seja na memória das vítimas de Sharpeville ou na valorização da cultura afro-brasileira, o 21 de março representa um chamado à reflexão e à ação. A luta contra a discriminação racial e a defesa das tradições de matriz africana caminham juntas na construção de uma sociedade mais justa, diversa e respeitosa.