Por Marianna França e Bernardo Guerra
Fotos: Letícia de Maceno
Carvão, canetinha, pincel ou um simples lápis dão vida aos desenhos do artista Ricardo Caldeira. Suas linhas orientam fluxos de corpos e expressões emocionais nos caminhos incertos do cotidiano. Seu desenho é uma narrativa em movimento que, em sua ação no papel, dança ancestralidade, sexualidade e, principalmente, expressão política.
As emoções contidas nos desenhos passam pela conscientização do corpo negro do artista e pelo movimento de seus afetos, como homem gay, que cresceu entre o Plano Piloto e São Sebastião. O viés político na obra de Ricardo não é proposital, e sim, consequência de suas vivências.
“Eu acredito que a emoção mobiliza o corpo. Quando, por exemplo, eu desenho um corpo que está nitidamente expressando uma emoção, a pessoa não consegue identificar se é um homem ou uma mulher - dentro da perspectiva de gênero ocidental e contemporânea que a gente é educado. Se a forma como esse corpo está expresso é um sentimento que destoa da forma como um homem deve se comportar ou da forma como uma mulher deve se comportar, pode ser que você não consiga entender o que é isso que está no desenho. Por exemplo, uma figura feminina que parece muito agressiva, ou uma figura masculina muito meiga. Mas se um homem negro, como eu, visivelmente negro, visivelmente homossexual e de um território da periferia, está produzindo essas imagens que externalizam a sua fala por meio dessas imagens, muitas coisas estão sendo ditas por esses desenhos e realidades estão sendo produzidas, sem que necessariamente eu precise levantar o punho para o alto e falar que vidas negras importam, sabe?”, explica.
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Instagram: @ricardocaldeira_