A autonomia inserida no processo de trabalho da Revista Traços
A autonomia inserida no processo de trabalho da Revista Traços
A autonomia é provavelmente o conceito central do trabalho da Equipe Social, da Revista Traços RJ e DF, portanto, vale a pena discutirmos este tema... Quando vamos ao dicionário buscar um primeiro entendimento sobre o tema em questão, encontramos: autonomia. sf 1º. qualidade ou estado de autônomo, independente, livre; faculdade de se governar por si mesmo, termo de origem grega, junção de auto, "de si mesmo" + nomos, "lei" (Aurélio e Michaelis, 2018), ou seja aquele que estabelece suas próprias leis. Autonomia significa nesta perspectiva autoconstrução, autogoverno (Santos, 2000).
Para Leal (1994) a produção de autonomia pode ser caracterizada em duas vias: primeiro o abandono da expectativa de resolutividade e eficácia a partir da comparação com o nosso desempenho; e segundo a criação de outras possibilidades de vida a partir deste outro padrão de subjetivação, padrões definidos pelo próprio sujeito.
Na mesma perspectiva, Campos & Campos (2006), afirmam a autonomia como a possibilidade dos humanos criarem suas próprias leis, elaboradas sempre em relação com as "leis exteriores", assim a autonomia nunca é absoluta, ocorre sempre em alguma gradação, alguma negociação entre o sujeito e o mundo (contexto que inclui a negociação com as contingências do mundo do trabalho). Dessa maneira, podemos afirmar que os diversos grupos sociais não gozam da mesma autonomia, uma vez que, na ordem social, a questão da autonomia aparece como questão política (dos humanos na polis), e é uma resultante das conformações sócio-históricas que se materializam em relações de poder.
Campos & Campos (2006) afirmam ainda que a autonomia não é o contrário de dependência, ou liberdade absoluta. Ao contrário, entende autonomia como a capacidade do sujeito lidar com sua rede de dependências. Nesse caminho, Tykanori (1996) coloca a questão da autonomia relacionada com a pluralidade de pontos de apoio e sustentação dos sujeitos. Quanto mais "dependentes" de muitas coisas/relações mais ampla será a nossa autonomia. Quantos mais pontos de apoio/dependências tivermos mais a nossas possibilidades de estabelecer novas normas, novos ordenamentos para a vida são ampliadas.
Autonomia poderia ser traduzida, segundo estas concepções, em um processo de co-constituição de uma maior capacidade dos sujeitos compreenderem e agirem sobre si mesmos e sobre o contexto conforme objetivos democraticamente estabelecidos. Assim, inspirada por este conjunto de ideias, para a Revista Traços autonomia significa ampliar as conexões do Porta-Voz da Cultura (PVC) com a vida. A partir da relação do PVC com os mundos do trabalho e da renda, a Equipe Social atua com o objetivo de conectar os Porta-Vozes com as políticas públicas ligadas a habilitação, saúde, desenvolvimento social, enfim, a autonomia do PVC é vista como ampliação de seus recursos e possibilidades.
Referências:
Holanda, Aurélio Buarque de. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3 Curitiba: Editora Positivo, 2004, 2120 p. Campos, Rosana T Onocko & Campos GW de S. Construção de autonomia: o sujeito em questão. In: Tratado de Saúde Coletiva. 2006. p. 1-22. Leal EM. A noção de cidadania como eixo da prática clínica: uma análise do programa de saúde mental de Santos. Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1994. Michaelis. Dicionário escolar língua portuguesa: nova ortografia conforme acordo ortográfico da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2008, 951 p. Santos NS, Almeida PF de, Venâncio AT, Delgado PG. A autonomia do sujeito psicótico no contexto da reforma psiquiátrica brasileira. Vol. 20, Psicologia: Ciência e Profissão. Scielo; 2000. p. 46-53. Tykanori R. Contratualidade e reabilitação psicossocial. In: Pitta FAM, editora. Reabilitação Psicossocial no Brasil. Editora Hucitec; 1996.